A Esquadrilha Fiscal de Costa (Algarve)
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NRP Lúrio - Esquadrilha Fiscal de Costa |
A Esquadrilha Fiscal de Costa, com sede em Faro, acumulou durante a Grande Guerra de 1914-18 as funções de fiscalização da pesca com as de vigilância militar no mar.
Desta esquadrilha fizeram parte a canhoneira “NRP Lúrio”, o rebocador “NRP Lidador”, a lancha-canhoneira “NRP Rio Minho”, o lança-minas “NRP Vulcano” e o vapor “Carregado”.
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Costa do Algarve |
A esta força foi acrescentado o caça-minas “NRP Galeo”, que não dependia da Esquadrilha Fiscal de Costa mas da Divisão Naval (Lisboa), para colaboração com as forças francesas e inglesas que também patrulhavam a saída do Estreito de Gibraltar na zona da costa algarvia entre o Cabo de S. Vicente e Lagos.
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Zona de Patrulha - Algarve |
A vigilância da costa do Algarve era efectuada por estes meios navais com o apoio de um posto radiotelegráfico montado no Alto de Santo António, em Faro.
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Posto de Rádio - Alto de Santo António (Faro), Base Naval - Porto de Faro |
A Esquadrilha tinha como navio de comando a canhoneira "NRP Lúrio", comandada pelo 1º Tenente Carlos de Sousa Coutinho, armado com 2 peças de Hotchkiss de 47m e 1 metralhadora de 6,5mm. Tinha uma velocidade máxima de 12,5 nós e uma tripulação de 4 oficiais, 6 sargentos e 41 praças. A 6 de Novembro de 1917 a canhoneira passou a ser comandada pelo Capitão-tenente Joaquim Marques até ao final da guerra.
Durante a Grande Guerra a "NRP Lúrio" cumpriu três comissões na Esquadrilha Fiscal de Costa, entre 20 de Setembro a 18 de Novembro de 1914, entre 14 de Fevereiro de 1915 a 8 de Fevereiro e 1916, entre 1 de Março de 1916 a 14 de Maio de 1918 e de 7 de Agosto a 11 de Novembro de 1918, onde se manteve até 16 de Outubro de 1919.
Ao longo do tempo a canhoneira "NRP Lúrio" teve de ir quatro vezes a Gibraltar para reparações, abastecimento e comboiar o vapor "Carregado", entre 26 de Setembro e 10 de Outubro de 1917, entre 20 e 31 Dezembro de 1917 e entre 4 e 11 de Abril de 1918.
A principal missão desta esquadrilha em tempo de paz, fiscalização das águas territoriais por causa da pesca ilegal efectuada pelos pescadores espanhóis, manteve-se durante o período de guerra acrescido da vigilância sobre os submarinos alemães que nestas águas se colocavam à espera dos navios que passavam pelo Estreito de Gibraltar. Era quase diária a recepção de SOS no posto de rádio de Santo António, provenientes de navio atacados por submarinos junto à boca do Estreito de Gibraltar. Muitas vezes os navios da Esquadrilha não saiam para acudir as vítimas por causa da distância à sua base em Lagos.
Em 1916, 30 de Outubro, efectuou a recolha de náufragos perto de Portimão, pertencentes ao navio norueguês "Torsdal", torpedeado pelo submarino alemão U63, comandado por Otto Schultze, no dia 28 de Outubro. (Mendes, 1989)
Ainda em 1916, em patrulha junto a Portimão a "NRP Lúrio" avistou um submarino alemão junto a um navio à vela, que entretanto começou a adornar e se afundou. Em postos de combate a canhoneira “NRP Lúrio” abriu fogo sobre o submarino que entretanto submergiu. Após cessar fogo procedeu à recolha dos náufragos. Mais tarde sou tratar-se do lugre "Mary Horten" que vinha de Stanvager para Genova com carga diversa. Tinham sido abordados pelo submarino que fez ir a bordo um oficial e quatro praças para analisar a carga e que os tinham mandado sair para o escaler onde foram recolhidos, antes de minarem o navio. (Mesquitella, 1923)
Em 1917, quando se intensificou a guerra submarina, após declaração da guerra submarina total, os franceses e os ingleses colocaram permanentemente na zona do Cabo de São Vicente duas esquadrilhas que se rendiam de seis em seis dias.
A esquadrilha francesa que tinha a sua base naval em Casa Blanca (Marrocos), era composta por dois submarinos “Ampére” e “Papin” e de um caça-minas.
A esquadrilha inglesa com base naval em Gibraltar, era composta por um cruzador auxiliar e dois torpedeiros, que costumava permanecer na enseada da Baleeira junto de Sagres.
O caça-minas "NRP Galeo" que tinha sido deslocado para reforço de vigilância nestas águas colaborava regularmente e alternadamente, com estas duas esquadrilhas.
Só num dia, em 24 de Abril de 1917, o submarino U35 comandado por Lothar von Arnauld de la Perière, afundou quatro navios ao largo de Sagres, o "Nordsoen" dinamarquês, o "Bien Aime Prof. Luigi" italiano, o "Torvore" e o "Wilhelm Krag ambos noruegueses, e ainda, danificou o "Triana" espanhol no dia 27 de Abril. (Sanches, 2005)
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Torvore - Navio noroeguês |
Clube Filatélico de Portugal
Mesquitella, Bernardo da Costa, "Marinheiros de Portugal", Lisboa, Imprensa Manuel Lucas Torres, (1923)
Mendes, Agostinho de Sousa, "Setenta e Cinco Anos no Mar", Lisboa, Comissão Cultural da Marinha, (1989)